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A Bíblia é um livro, e todo livro nos convida à leitura. E quando se trata de leitura, há duas abordagens possíveis: ler para se informar e ler para entender.[1]
A abordagem “ler para se informar” é a mais comum, e a mais fácil. É o que ocorre quando lemos jornais, revistas, ou qualquer coisa que nos seja imediatamente inteligível – de acordo com a nossa capacidade e talento. Esse tipo de leitura aumenta nosso estoque de informações, mas é incapaz de aumentar nosso entendimento. E por quê? Porque a leitura do nível informativo não provoca inquietação intelectual, perplexidade intelectual, e nem nos desafia a um raciocínio apurado que esteja acima de nossa capacidade de compreensão.
Mas a abordagem “ler para entender” é diferente. É o tipo de leitura de algo que, em princípio, não entendemos completamente. Normalmente essa “coisa” a ser lida é melhor ou maior do que o leitor. E o leitor sabe que essa leitura aumentará seu entendimento, pois desafiará seu intelecto. Digamos que é uma comunicação entre desiguais: o conteúdo do livro é maior que o leitor do livro, por isso o leitor aprende. E por isso este tipo de livro exige maior grau de inteligibilidade que o livro meramente informativo.
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Apocalipse é um tipo de leitura “ler para entender”. E, por isso, desafia nosso intelecto, porque estamos diante de um livro que é melhor e maior do que nós; afinal, seu autor é o próprio Deus, e seu escopo começou antes de nós e invade a eternidade. Além do mais, seu propósito não é nos informar, mas nos fazer compreender algo. E mais do que compreender: fazer-nos entender para acreditar, para viver, e para dar a vida por essa crença.
Dito isto, o estudo e compreensão do Apocalipse é muito importante pelo menos por oito razões.
De acordo com o teólogo Ranko Stefanovic, a frase introdutória de Apocalipse, “de Jesus Cristo”, pode se referir a Cristo como quem revela (“revelação que vem de Jesus Cristo”), ou como quem é revelado (“revelação acerca de Jesus Cristo”). Gramaticalmente, ambas as traduções são possíveis. Entretanto, o contexto favorece a primeira como o significado principal, porque Jesus recebe a revelação e a transmite a João.[2]
Então, se a revelação vem de Jesus Cristo, a atitude correta e esperada é que estudemos este livro com dedicação e afinco. Afinal, como poderíamos negligenciar conteúdo vindo do próprio Deus?
Ou seja, se bem que as visões apresentadas têm sua fonte em Jesus, também são sobre Ele. Ele é o grande herói do livro, a figura central. Ele anda entre os candelabros (igrejas) e mantém suas estrelas (ministros fiéis) em Sua mão direita (Apocalipse 1:12, 13, 20). Só ele é capaz de “tomar o livro e de abrir-lhes os selos” (5: 9). Ele acabará por “reger todas as nações com cetro de ferro” (12: 5).
O Apocalipse está repleto de Jesus. Seus títulos ou alusões a Ele aparecem quarenta e nove vezes no capítulo 1; trinta e nove vezes no capítulo 2; quarenta e nove vezes no capítulo 3. Ele é o Criador, o Eterno, o Todo Poderoso, o Deus do Céu, o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, o Cordeiro – tanto o Cordeiro sacrificial como o Cordeiro conquistador, o Sol radiante e a Estrela da Manhã, o Santo. Ao todo, aparecem pelo menos dezenove nomes descritivos Dele dentro do livro. Chegamos a conhecer mais de Seu caráter e missão enquanto estudamos sua mensagem.
Desta forma, precisamos nos debruçar no livro que tanto fala de Jesus Cristo, pois Ele é a figura central de toda a Sagrada Escritura, e a pessoa central do Apocalipse. Sim, “no Apocalipse, o Deus trino revela sua Palavra ao leitor.[4]
O livro de Apocalipse completa e coroa o cânon sagrado. Nela, versos de livros do Antigo Testamento (AT) se reúnem em um final triunfante. Os teólogos Westcott e Hort listam mais de 400 citações do AT no Apocalipse. Adicionando as alusões ao AT que o Apocalipse contém, esse número pode subir para mais de 500. E essas citações e alusões é maiormente de sete livros: Êxodo, Salmos, Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel e Zacarias.
O rico imaginário do Apocalipse é extraído do AT. Há nomes de lugares como Jerusalém, Babilônia, Eufrate. Há, ainda, nomes de objetos como o templo e seus móveis, bem como pessoas como Balaão e Jezabel. Assim, facilmente podemos concluir que o Apocalipse é ao ápice da revelação. Como diz Simon Kistemaster, “todo o livro do Apocalipse volta a nossa atenção para o seu autor principal, Deus. Ele é o artista divino, o arquiteto supremo. É um tomo divinamente elaborado, no qual Deus demonstra a sua mestria”.[5] Não resta dúvida: O Apocalipse merece ser lido e estudado!
Logo no verso 3 do capítulo 1, Apocalipse envia este recado fundamental: “Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da profecia”. E no final do livro, João diz: “Eu, a todo aquele que ouve as palavras da profecia deste livro…” (22:18).
O apóstolo João claramente pretendia que seus escritos fossem uma mensagem profética a ser dada às igrejas, com o propósito de iluminar sua caminhada. De fato, João “conclama a cristandade toda com as palavras: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Apocalipse 2:7,11,17).[6] Por isso, precisamos estudar o Apocalipse.
O livro de Apocalipse revela Deus no controle da história, e evidencia uma filosofia da história que pode ser assim sintetizada: A vida humana se move em direção à consumação de um grande objetivo, de acordo com os propósitos da vontade soberana de Deus. O ser humano pode impedir, desviar ou atrasar os planos de Deus, mas não pode destruí-los. A justiça finalmente triunfará e o mal será vencido para sempre. E neste processo todo, Deus está com o Seu povo. Ele está guiando o curso dos eventos humanos e Sua causa finalmente triunfará.
Ao leitor atento, fica evidente que “o livro do Apocalipse revela Jesus Cristo em Sua obra para aperfeiçoar um povo na Terra, a fim de que este reflita Seu caráter, e guiar a igreja através das vicissitudes da história rumo ao cumprimento de Seu propósito eterno”.[7] É neste livro, de forma mais clara do que no restante da Bíblia, que se revela “ao fundo, em cima, e em toda a marcha e contramarcha dos interesses, paixões e poderio humanos, a força de um Deus misericordioso, a executar de forma silenciosa e paciente os conselhos de Sua própria vontade”.[8]
Não resta dúvida que o leitor que estuda e compreende o Apocalipse, tem a chance de viver com outro entendimento da vida, e com outro sentido de vida. Na verdade, o verdadeiro sentido.
Já percebeu que o livro de Apocalipse se torna mais significativo toda vez que há uma crise mundial, ou ao menos mais ampla? Quando se levanta um problema sério que afeta milhões de pessoas, dificilmente alguém pensa no majestoso livro de Isaías, ou no poético Salmos, e nem sequer no profundamente teológico livro de Romanos. Sempre que ocorre uma crise, sempre que há destruição e ameaça de perseguição, ou quando a fé é provada, recorremos ao Apocalipse para fortalecer a esperança e lembrar do futuro promissor ao lado de Deus. Ele tem a propriedade de encorajar e motivar.
A leitura do Apocalipse deixa evidente: estamos chegando ao final da jornada. Sim, nele todos os grandes temas da revelação divina chegam ao clímax. A igreja militante termina sua caminhada com grande vitória, o pecado é eliminado, a morte desaparece, os inimigos de Deus são sumariamente derrotados, o bem vence o mal e a Nova Terra é instaurada. Assim, recomeça a eternidade e Cristo reina soberano sobre todos os poderes angelicais e humanos. Nenhum outro livro termina de modo tão triunfante!
O capítulo 21 descreve a Nova Jerusalém, com sua beleza e majestade. E o capítulo 22 apresenta o rio da vida, o trono de Deus e do Cordeiro, a árvore da vida. E garante: “Estas palavras são fiéis e verdadeiras” (22:6). Que maneira cativante de concluir uma narrativa! Desta forma, o Apocalipse não é apenas o último livro da sequência canônica de nossa Bíblia, mas, também, a conclusão necessária e oportuna da revelação de Deus aos seres humanos.
Realmente, Apocalipse é um livro precioso, pois não somente aguarda a futura consumação de todas as coisas e o triunfo definitivo de Deus e do Cordeiro. Além disso, liga as pontas soltas dos sessenta e cinco outros livros da Bíblia. De fato, é assim que podemos entender melhor este livro: conhecendo toda a Bíblia! As pessoas, os personagens, símbolos, eventos, números, cores e tudo mais, quase tudo isso é encontrado antes na Palavra de Deus.
Por isso, alguns apropriadamente designaram este livro como “a Grande Estação Central” da Bíblia, porque é onde todos os “trens” chegam. E que trens são esses? As linhas de pensamento que começam em Gênesis e nos livros seguintes, tais como o conceito de redenção, a nação de Israel, as nações gentias, a igreja, Satanás, o adversário do povo de Deus, o Anticristo, e muitos outros.[10]
E tem mais: a Igreja Adventista do Sétimo Dia nasceu e se criou nas profecias apocalípticas de Daniel e Apocalipse. Nos anos formativos da história da Igreja Adventista, os pioneiros adventistas conferiam a essas profecias destaque central. E havia várias razões para isso: a) Daniel e Apocalipse proveem muito do conteúdo que torna a teologia adventista singular no mundo cristão; b) esses livros apocalípticos fornecem o núcleo da identidade e da missão adventista, principalmente a convicção de que o movimento adventista deve desempenhar um papel decisivo na preparação do mundo para o breve retorno de Jesus; c) o senso apocalíptico de que Deus está no controle da história supria a confiança para prosseguir , mesmo quando o movimento ainda era pequeno e as dificuldades eram grandes; e d) o senso de um fim que se aproxima, favorecido pelo estudo de Daniel e Apocalipse, proporcionava a motivação para levar esta mensagem ao mundo em um breve período de tempo.[11]
Por tudo isso, precisamos ler e compreender o Apocalipse. Termino com uma preciosa citação de Ellen White a respeito da importância crucial de estudar Apocalipse: “Quando os livros de Daniel e Apocalipse forem bem compreendidos, terão os crentes uma experiência religiosa inteiramente diferente. Ser-lhes-ão dados tais vislumbres das portas abertas do Céu que o coração e a mente se impressionarão com o caráter que todos devem desenvolver a fim de alcançar a bem-aventurança que dever ser a recompensa dos puros de coração”.[12]
A mensageira do Senhor está dizendo: se quisermos ter uma experiência religiosa inteiramente diferente, devemos ler e compreender o Apocalipse. Se quisermos receber vislumbres das portas abertas do Céu, devemos ler e compreender o Apocalipse. Se quisermos desenvolver adequadamente nosso caráter, devemos ler e compreender o Apocalipse.
Observe que Ellen White não está falando apenas de conhecimento teórico, ela está falando de experiência religiosa. Em outras palavras: ler e compreender o Apocalipse altera nosso cristianismo prático. O que você está esperando?! Tome sua Bíblia, leia, estude e compreenda o Apocalipse. Afinal, “Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo” (Apocalipse 1:3). Amém!
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[1] Adler, Mortimer. Como ler Livros. São Paulo: É Realizações, 2010, p. 30.
[2] Stefanovic, Ranko. La Revelación de Jesucristo: Comentario del libro del Apocalipsis (Spanish Edition) . Andrews University Press. Edição do Kindle. Posição 1504 de 15270.
[3] Este item, bem como o 3o, 4º e 5º estão fundamentados em “Seven Reasons for Studying the Book of Revelation”. Orley M. Berg, disponível em https://www.ministrymagazine.org/archive/1978/01/seven-reasons-for-studying-the-book-of-revelation
[4] Kistemaker, S. (2014). Apocalipse. (J. Hack, M. Hediger, & M. Lane, Trads.) (2a edição, p. 11). São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã.
[5] Kistemaker, S. (2014). Apocalipse. (J. Hack, M. Hediger, & M. Lane, Trads.) (2a edição, p. 12). São Paulo, SP: Editora Cultura Cristã.
[6] Pohl, A. (2001). Comentário Esperança, Apocalipse de João (p. 32). Curitiba: Editora Evangélica Esperança.
[7] Nichol, Francis D. Editor. Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, volume 7. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014, p. 799.
[8] White, Ellen G. Educação. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010, p. 173.
[9] Os itens 6 a 8 estão fundamentados em Henry, M., & Lacueva, F. (1999). Comentário Bı́blico de Matthew Henry (p. 1914–1916). 08224 TERRASSA (Barcelona): Editorial CLIE.
[10] MacDonald, W. (2004). Comentario Bíblico de William MacDonald: Antiguo Testamento y Nuevo Testamento (p. 1081). Viladecavalls (Barcelona), España: Editorial CLIE.
[11] George W. Reid, editor. “A hermenêutica da apocalíptica bíblica”. In Compreendendo as Escrituras: Uma abordagem Adventista. Engenheiro Coelho, SP: UNASPRESS, p. 323.
[12] White, Ellen G. Testemunhos para Ministros e Obreiros Evangélicos, pág. 114.
Fonte: noticias.adventistas.org